Quando eu e a Ananda descobrimos que ela estava grávida de gêmeos ficamos bastante entusiasmados e assustados também. No carro, quando voltávamos do consultório onde foi feito o exame, ela me perguntou: Mas você vai me ajudar né? Ela estava transparecendo uma ponta de pânico ao dizer isso. E eu, talvez ainda sem tanta convicção, ainda assim soltei uma resposta que vem me fortalecendo até hoje. Eu disse que não ajudaria, que esse não era o meu papel…
Tudo começou quando não conseguíamos engravidar
Quando a Ananda engravidou pela primeira vez, já tínhamos 6 anos de casados. O fato é que estávamos tendo dificuldades para engravidar. Descobrimos que eu tinha um déficit no número de espermatozoides perfeitos.
A conclusão, sofrida, foi de que deveríamos fazer uma inseminação artificial. Mobilizamos a família para nos ajudar a custear, encontramos um lugar com preço razoável numa cidade vizinha e o médico foi excelente. No fim, não poderia ter dado mais certo, no dia de implantar os embriões foi nos feita a seguinte pergunta:
– Quantos bebês vocês querem?
– Dois.
A resposta foi certeira. Os dois conseguiram se desenvolver e daí nasceram Rosa e Lira.
Mas o fato é que esta dificuldade em engravidar foi decisiva na minha transformação em uma pessoa apta a ter filhos e de fato querer cuidar.
O fato de termos tido que passar por tantos processos para algo que antes nos parecia tão natural, fez com que o meu desejo de ter filhos também fosse mais forte.
No início, quem mais queria era a Ananda. Eu não deixava de querer, mas posso afirmar que o processo todo de ter que lutar pela paternidade fortaleceu este desejo bastante e quando ele se concretizou, tivemos um legítimo gosto de vitória.
Estou contando isso pra contextualizar os momentos cruciais, onde passei a enxergar melhor o meu papel de pai e também de marido.
Papel de pai é não esperar nada em troca
Não esperar nada em troca é fazer o que tiver que ser feito, ciente de que o maior beneficiário é você mesmo.
Uma das maiores ciladas é fazer o bem para o outro sem se sentir beneficiado. O verdadeiro bem é antes de tudo para quem pratica.
A mera atitude de ajudar esconde uma expectativa por algo em troca. O pai que faz parte da vida de seus filhos sabe que o retorno é o seu sentimento de dever cumprido e sabe que está plantando o que vai colher mais tarde.
Não esperar nada em troca é não ter a atitude de ajudar a esposa. Só isso já mostra que este pai se coloca em posição coadjuvante.
A minha amiga Mariana, que se tornou uma blogueira (Blog Mãe Onça) de mão cheia, escreveu um artigo com um título forte: “Pai que ajuda é um babaca”.
Veja um trecho deste texto que ela escreveu:
“Pai tem que criar filho junto com a mãe.
A gente “ajuda” é com alguma coisa que é tarefa do outro.
Meu marido estaria “me ajudando” se ele lavasse as minhas calcinhas, coisa que é dever só meu fazer.
Cuidando dos nossos filhos junto comigo ele não faz mais do que obrigação dele”.
Qual é o papel do pai?
Essa pergunta tem duas respostas: Uma bastante óbvia e outra que não é tão óbvia (mas é fundamental).
- Resposta óbvia:
O papel de pai é cuidar dos filhos e cuidar da sua relação com a sua esposa. Mesmo que seja um casal separado, é importante que haja uma relação cordial. Tenho pais separados, e sei porque estou dizendo isso.
O Pai precisa dar exemplos, precisa deixar a preguiça de lado e ensinar. O pai deve garantir o sustento financeiro, mas saber que isso não é nem um terço do seu trabalho. Deve estar próximo e acompanhando. Deve dar carinho.
- Resposta não óbvia:
Antes de termos filhos, já nos frustramos, levamos fora, e aprendemos que não somos tão bons assim. Aprendemos a ser mais humildes.
Mas por mais que você diga: “Sei que nada sei”, e por mais humilde que você diga ser, saiba que o seu filho precisa de uma referência clara, precisa de orientação.
Não é tão óbvio, mas posso te afirmar: Você é pelo menos um pouco desorientado… Mas não importa, porque mesmo assim o que precisamos dar a nossos filhos é orientação.
Mesmo fazendo irresponsabilidades na educação dos filhos, continuamos sendo responsáveis pela forma como educamos. Não tem como fugir da responsabilidade. O pai que decide se afastar é responsável por essa decisão. Não tem pra onde correr.
Não nasci sabendo…
Minha primeira experiência que me mostrou a insuficiência presente no verbo “ajudar” foi quando morei com a minha irmã e o meu irmão. Saímos juntos de casa e isso nos ajudou a amadurecer mais rápido e juntos, o que tornou as coisas mais fáceis. Hoje não considero que eu “ajudo minha mulher em casa”, o que eu faço nada mais é do que meu dever como marido e pai. Faço com amor, por elas e por mim e acredito que isso é realmente o justo e o correto.
Um dos desafios na época em que morei com a minha irmã foi que eu estava acostumado com uma série de coisas que eu tinha na casa da minha mãe. Falando rasgado: Eu não fazia nada em casa!!
E a minha irmã, sendo a única mulher, tipicamente se sobrecarregou com as tarefas domésticas, e reclamava disso com a gente (eu e o meu irmão).
Foi aí que eu notei pela primeira vez que o fato dela pedir ajuda me dava uma preguiça maior ainda de fazer as coisas da casa. Eu percebi, aos poucos, que fazer para mim seria a única maneira de me transformar nesse sentido, até o dia em que eu consegui verbalizar isso pra minha irmã.
Isso nos deixou mais tranquilos.
Na verdade, muitas mulheres não percebem que insistir para o marido ser mais presente em casa não resolve, porque os faz pensar cada vez mais que é para elas que o homem precisa melhorar, ao invés de ser para ele mesmo.
É preciso ver que cada um se transforma primeiramente para si mesmo. Não há melhor motivação do que esta.
Claro, o ideal seria não termos que educar o marido, ou a esposa. Mas quer saber? Acredito que de certa forma é pra isso que serve o casamento. Se não for para aprender um com o outro, fica sem graça, não é?